quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

"Pequenos Finais"

Daquilo
Que se alguém juntar
E jogar no lixo,
Não daria em nada
E vê se desencana esse choro
Que não vem,
E me paga certo
Aquilo que eu anotei no verso
Do seu amor
Pra você não esquecer
Que não importa se foi bonito
O fim atravessa
Os idiotas pelo seu inverso
[...]
Disso que eu comi em você
E que engasga sem jeito
Retirando todo o genuíno
De descobrir na sua boca
A xerox de um mesmo beijo.

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roubei daqui

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Para todos aqueles que realmente importam:

Eles estão sempre lá. Desejando ou não a presença deles, estando presentes ou não, estão sempre comigo. Mais próximos do que se tivéssemos nascido da mesma mãe e compartilhássemos o mesmo sangue. Dividimos a mesma paixão e quase sempre os mesmos objetivos. Unidos em busca de uma meta, seguimos juntos numa trajetória cheia de desunião e desentendimentos. Mas as coisas só funcionam assim mesmo entre a gente. Quanto mais discutimos e encontramos pontos divergentes entre nós, mais os laços se apertam. E se transformarão em nós que, penso eu, serão impossíveis de serem desatados com o passar do tempo. Eu os amo exatamente por cada coisinha que não suporto em cada um. Suportando as diferenças é que aprendemos a conviver juntos e a conhecer cada vez mais uns aos outros.
Quando a situação chega no limite onde todos perdem o controle, eu paro e digo a mim mesma: "É exatamente aqui nesse lugar e com essas pessoas que eu quero estar!"
A minha existência (resistência, sobrevivência...) está ligada a vocês para todo o sempre.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Tem gente que não sabe esperar...

Post roubado, muito bom realmente...

"Eu: Olha, eu já decidi. Se em uns três anos a vida não melhorar, meto uma bala na cabeça.

Conhecida encontrada no shopping: Três anos? Mas sempre melhora

Eu: É? Então por que existem os suicidas?

Conhecida: Vai ver eles deram um tempo menor, sei lá, uns dois meses.


Bem pensado..."

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Pequenas ternuras

"Quem acorda de madrugada e estremece no desgosto de si mesmo ao lembrar que há muitos anos feriu a quem amava;
... quem se detém no caminho para contemplar a flor silvestre;
quem se ri das próprias rugas ou de já não agüentar subir uma escada como antigamente;
...
quem procura numa cidade os traços da cidade que passou, quando o que é velho era frescor e novidade;
quem se deixa tocar pelo símbolo da porta fechada;
... quem se comove ao ver passar de cabeça branca aquele ou aquela, mestre ou mestra, que foi a fera do colégio;
...
quem jamais negligencia os ritos da amizade;
quem guarda, se lhe derem de presente, a caneta e o isqueiro que não mais funcionam;
...
quem coleciona pedras, garrafas e folhas ressequidas;
quem passa mais de quinze minutos a fazer mágicas para as crianças;
... quem procura decifrar no desenho da madeira o hieróglifo da existência;
quem não se envergonha da beleza do pôr-do-sol ou da perfeição de uma concha;
quem se desata em riso à visão de uma cascata;
quem não se fecha à flor que se abriu de manhã;
quem se impressiona com as águas nascentes, com os transatlânticos que passam, com os olhos dos animais ferozes;
... quem visita sozinho os lugares onde já foi feliz ou infeliz;
... quem sente pena da pessoa amada e não sabe explicar o motivo;

todos eles são presidiários da ternura e,
mesmo aparentemente livres como os outros,
andarão por toda parte acorrentados,

atados aos pequenos amores da grande armadilha terrestre."

Paulo Mendes Campos

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Valeria a pena?

Valeria a pena perder
O que há de melhor no viver
Tentando esquecer
Alguém sem o qual não sei viver?
.
É minha hora de dizer
Dependendo de você
Saberei o que fazer
.
Onde é o meu lugar?
É você quem vai ditar
Ao seu lado posso estar
Ou distante, no infinito
Onde vou pensar finito
.
Mas como te esquecer
Se viver lembra você?

Schubert Maia
__________________________________________________________________
Porque o Schubiks escreveu esse poema, foda, ele merece ser postado..
amo vc Schubinhas .. valeria a pena sim..
por ela, não sei, mas valeria a pena morrer de amor, ou por amor..
Amo vc..

terça-feira, 15 de julho de 2008

.. Coisas que vc nunca irá ler ..

"sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor
pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava
no meio da noite só pra ver você dormindo meu deus
como você me doía vezenquando eu vou ficar esperando
você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma
praça então os meus braços não vão ser suficientes para
abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta coisa
que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você
sem dizer nada só olhando olhando e pensando meu deus
ah meu deus como você me dói vezenquando"

Caio Fernando Abreu

Eu nunca mais vou voltar

" ..quando disseste que a única coisa que havias desejado o dia inteiro era chorar sem salvação, num canto qualquer, sem motivo, sem dor, até mesmo sem vontade, de mágoa, de saudade, de vontade de voltar ... que querias chorar um três cinco sete dias sem parar sentindo vontade mansa de voltar.Não haviam permitido, inclusive eu."

(Caio Fernando Abreu. O ovo Apunhalado, O dia de ontem.)
_____________________________________________...E assim eu voltaria. Sem precisar de ninguém, sem precisar de ombros, das mãos, do beijo, da aceitação e das respostas de ninguém.

Mas, infelizmente, isso nunca vai acontecer. Quanto mais eu me aproximo do que seria a minha volta, mais longe eu estou de querer voltar. Quanto mais eu me recupero do que doeu tanto, menos vontade eu tenho de causar dor em alguém. Esse desejo incontrolável de voltar é apenas a vida me dizendo para andar pra frente e não voltar nunca mais...

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Saudadezinha

Ainda que eu esteja numa fase bacana e sem nós no peito (o que por um lado é ruim pois a paz sempre me dá alguns quilinhos a mais e alguns textos a menos), resolvi embarcar num momento nostalgia.

Acho normal. Acho perfeitamente normal lembrar com carinho que você sempre dava um jeito de me mandar mensagens em datas festivas. Estivesse você casado ou namorando ou ilhado num templo budista, dava um jeito. Era como se dissesse, sem dizer “eu sei que já faz tempo, mas ainda amo você”.

Também me faz bem lembrar que você nunca, nunca, nunca se alterava. Trouxesse o garçom o pedido errado pela terceira vez.Você nunca estragava nossas noites. Eram tão raros os nossos momentos, você dizia, que eram para ser sempre bons. E de fato sempre eram.

Eu tenho saudade de mil coisas e todas essas mil coisas sempre caem na mesma única coisa de que eu tenho tanta saudade: sua leveza. Você me dizia que jamais iria me cobrar leveza, pois me amava intensa. E me pedia que fizesse exatamente o mesmo, ainda que ao contrário, por você. E eu não obedecia nunca, afinal, pessoas intensas não obedecem.

E assim nós seguimos, por alguns bons anos entrecortados, sendo tão parecidos ainda que tão atraídos mutuamente pelos nossos opostos. A gente era parecido principalmente porque topava as coisas mais malucas como, por exemplo, brincar que tinha acabado de se conhecer numa festa, ainda que tivesse ido junto para a festa. E por horas ficávamos nessa bobeira e nenhum dos dois ria. Até que alguém pedia, cansado, “já pode voltar ao normal? É que está me dando vontade de beijar você e eu não beijo desconhecidos”.

Eu tenho saudades de tudo. Da gente acordar sua vizinha de tanto rir de coisas bestas, da paciência que você tinha com meus quase três anos a menos, da mania que você tinha de arrumar minhas roupas em cima da cama enquanto eu tomava banho e de quando você apertava os ossinhos das minhas costas no escuro e falava, baixinho: “ai, como essa menina gosta de fazer drama!”.

Não é um sentimento egoísta e muito menos possessivo. É apenas uma saudadezinha. Gostosa, tranqüila, bonita, saudável, de longe. E, quem diria: leve.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Homem pode ser condenado à prisão após furto de rosquinha

Scott Masters,42 anos,poderá ser condenado a 30 anos de cadeia pelo furto de um donut em uma loja comercial em Farmington,Minnesota,estado americano.

A acusação diz que Master escondeu a rosquinha em suas roupas e, ao ser abordado pela atendente do estabelecimento,agrediu a mulher com um empurrão.

Nos Estados Unidos a pena prevista para furto é de 5 a 15 de prisão,porém o fato de Scott Masters ser reincidente,pode levar os promotores a pedirem até 30 anos de cadeia.

Entrevistado pelo jornal "St. Louis Post",o acusado admite o furto,mas nega que tenha agredido a vendedora."Não tem como eu ter empurrado uma mulher por causa de uma rosquinha",disse.

Rick Baker,chefe de polícia local,afirmou que a lei trata o furto e o assalto como roubos da propriedade alheia,sem levar em consideração o valor ou os meios empregados para cometer o crime."A questão não é a rosquinha.É o delito",enfatizou.

Quanto a Masters,não tem nem o consolo de ter saboreado o donut,pois foi obrigado a se desfazer da prova do crime enquanto fugia.


PS.: Post em homenagem ao xucrutz, é batman .. essas coisas acontecem mesmo, não só são apenas frutos de sua mente altamente altista... Poxa!

sexta-feira, 18 de abril de 2008

PALAVRÕES TAMBÉM SÃO IMPORTANTES

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.
"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?
No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!", assim como o "Absolutamente Não" já soam sem nenhuma credibilidade. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo Pedrinho presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Caetano Veloso.
Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um"Puta-que-pariu!", ou seu correlato Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no meio do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no meio do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!".. E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? Fodeu de vez!".
Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda- se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. “Năo quer sair comigo? Entăo foda-se!”. “Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Entăo foda-se!”. O direito ao “foda-se!” deveria estar assegurado na Constituiçăo Federal.Liberdade, igualdade, fraternidade e FODA-SE!
Luís Fernando Veríssimo

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O homem que não traía

Olha, vai indo pra lá e me espera naquela posição.

De quatro, de costas, de bruço, com a cara voltada para a parede, com a cara enfiada na poltroninha da sala moquifada de um flat moquifado. A cara encostada no geladinho da última chuveirada. De cara pro chão.

Assim ele a queria: sem olhar em seus olhos, sem beijar sua boca, sem sentir sua alma. Assim não era traição, ele pensava.

Ele era um homem sério, apaixonado pela mulher, apaixonado pelo filho que estava aprendendo a dizer papai, apaixonado pela instituição família, apaixonado pelo apartamento novo, apaixonado pela casa na praia com cadeirinha de balanço de frente para o mar, apaixonado pela profissão, apaixonado pelo salário, apaixonado pelo respeito que tinha por ser um homem de família e bem-sucedido, apaixonado demais pra ter alguma nova paixão.

Olha, vai indo pra lá e me espera naquela posição. A posição ela podia escolher, desde que fosse qualquer uma em que ele não visse seu rosto.

Ela aceitava e tanta submissão a excitava. A hipocrisia disfarçada de todos os relacionamentos era a maior causa de sua angústia indescritível. Ela tinha um nojo da dualidade de intenções dos seres humanos que ora amam, ora usam, e preferia a clareza da sacanagem e a certeza do vazio. Ela escutava o som da porta, o cheiro dele invadia o quarto e ela desabrochava como uma flor ao se alimentar do Sol, mesmo com tanta escuridão. Uma pressão sem a menor pretensão de carinho a lançava para frente, ele a prendia pelos cabelos.

Aquilo durava horas até que tanto suor trouxesse a obviedade do banho. Ele tomava primeiro e se despedia dela, sem olhar pra trás: tchau minha querida.

De volta para a rua cheia de casais que passeavam de mãos dadas, ela andava sem saber se sorria ou se chorava. Sentia-se violentada pela inexistência do amor e absurdamente feliz pelo mistério da outra mulher que a invadia vez ou outra. Lembrava de Chico Buarque e se sentia reconfortada pelas baixarias e putarias transformadas em poesia. Era um romance sujo, mas era um romance.

Olha, vai indo pra lá e me espera naquela posição. Era um vício e talvez você não entendesse nada olhando para ela. Uma moça bonita, uma moça tão paparicada, uma moça tão menina. Ela tinha homens lhe oferecendo carinho em bandejas de ouro.

Mas talvez você entendesse a moça se mergulhasse fundo nas estranhezas do espírito e lembrasse de um dia em que se excitou com algo doloroso: um amor proibido qualquer, uma falta de telefonema qualquer, um fechar de rosto e um olhar sombrio no lugar de semblantes rosados de amor.

Quando o amor é falso, a mágoa é tão grande que você o trai amando justamente a falta dele.

Ou nem precisa tanto, talvez você entendesse a moça se algo tão preenchedor rasgasse seus orgulhos, suas certezas, suas dignidades.

Ele entrava nela e calava qualquer opinião formada, qualquer preconceito, qualquer direito de ser melhor que alguém. Era um alívio: ela era humana e suja como todos, era louca e estranha, era fracaŠ e o mundo se tornava menos feio e as pessoas mais passíveis de perdão.

Talvez você a entendesse se parasse de pensar um pouco e deixasse o corpo ir até onde o tormento manda. Você a entende bem.

Olha, vai indo pra lá e me espera naquela posição.

Estavam lá mais uma vez. Ela espremida, ele espremendo. O caldo sofrido de uma paixão. Um barulho estranho, a maçaneta manuseada impacientemente, alguém queria entrar ali. Era alguém que tinha errado de quarto e com um pigarreio envergonhado e velho se desculpava pelo erro.

Era tarde demais, com o susto ela tinha olhado para trás e eles haviam se olhado bem no fundo dos olhos por mais de dois segundos.

Você tá linda, esse corte de cabelo ficou ótimo em vocêŠ você tá bonita.

Ela o tentou beijar pela primeira vez e ele deixou. Tomaram banho juntos e ela fez uma brincadeira com as pintinhas das costas dele. Ele fez uma piada com a pintinha da virilha dela. Eles riram e ela o achou lindo. Ele a achou fantástica e inteligente. Ela beijou o pescoço dele e ele fez um carinho bem de leve nela . Ele a ajudou a sair da banheira e enrolou a toalha em seu corpo, dando um beijo em sua testa. Ela fez cara de menina, ele fez cara de proteção. Atravessaram a rua de mãos dadas, e nunca mais se viram.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Todo mundo vai embora

Em algum momento, em vários deles ou definitivamente, as pessoas sempre vão embora. Talvez essa seja a pior coisa do mundo.
Ele vai embora, sempre, quando eu preciso de quinze minutos de silêncio complementar à minha entrega, odeio o desespero dele por banhos e a sua ansiedade curiosa pelo que vem depois. Que se dane o depois, eu sou agora, ou pelo menos era.
Ele vai embora, sempre, quando o parágrafo passa de três linhas, o pensamento dele ultrapassa meus olhos, o som se perde da minha boca para qualquer outro canto do mundo que não tenha seus ouvidos e ele olha fixamente para qualquer outra coisa que não seja a minha existência. Sempre a mesma cara de tédio e de busca pelo resto que não se repete ou não se prolonga.
Ele sempre vai embora quando eu queria que ele se perdesse um pouco, rasgasse a agenda, lançasse o celular no rio, desligasse todos os toques, luzes e sinais de que há todo o resto. Esquecesse do sono, do livro, da planta, das lembranças. Ele sempre vai embora do meu mundo quando eu só queria que ele descansasse um pouco de ser ele o tempo todo, mas ele tem muito medo de não ser ele, talvez porque ele não saiba o que ele é.
Ele sempre vai embora pra descobrir quem ele é, ou para lembrar que ele é o mesmo de sempre que não sabe quem é, ele sempre vai embora antes da gente ser alguma coisa juntos.
Vivo com essa sensação de abandono, de falta, de pouco, de metade. Mas nada disso é novidade. Antes dele, teve o outro, o outro que continua indo embora para sempre porque nunca foi embora pra sempre. Eu não sei deixar ninguém partir, eu não sei escolher, excluir, deletar. São as pessoas que resolvem me deixar, melhor assim, adoro não ser responsável por absolutamente nada, odeio o peso que uma despedida eterna causa em mim. Nada é eterno, não quero brincar de Deus.
O outro foi embora a primeira vez porque estava bêbado demais, foi embora a segunda porque ficou tarde, foi embora a terceira porque teve medo de ficar pra sempre, foi embora durante alguns longos anos porque todo o resto do mundo precisava dele e eu era apenas uma das demandas. Ele me chamou de demanda a última vez que foi embora pra sempre, mas pra sempre pode durar duas horas, dois anos ou duas encarnações. A gente sempre se despede lembrando da música do Chico que diz “o amor não tem pressa, ele sabe esperar em silêncio”.
Antes dele teve ainda um outro que sempre ia embora na espera de que existisse algo melhor do que eu, mas não ia definitivamente porque não é todo dia que aparece alguém melhor do que eu. Um dia apareceu, ela até que é bonita e tal, não parece tão confusa e intensa e talvez mediocridade seja tudo de que uma pessoa precise para ser feliz. Mas a última vez que ele foi embora, antes me deu um abraço de quem nunca saiu do mesmo lugar. O abraço e o seu olhar de quem nunca sabe direito porque vai embora ficaram pra sempre comigo.
Hoje meu novo amigo foi embora, não pra sempre, mas um segundo pode ser pra sempre se pensarmos grandiosamente, e ele me dá vontade de pensar grandiosamente. Fazia tempo que alguém não ficava tão calado enquanto eu apenas existo, fazia tempo que alguém não ficava tão perdido só porque me encontrou, fazia tempo que eu não me olhava no espelho e sorria, sabendo que sim, sim, sim, sou bonita ora bolas! Sou interessante! Da onde eu tinha tirado o contrário nos últimos meses?
Todo mundo chega na sua vida. Em algum momento, em vários deles ou definitivamente, as pessoas sempre chegam. Talvez essa seja a melhor coisa do mundo.
Como naquele texto que não lembro, daquela pessoa que não lembro, e sobre o qual você me contou de um jeito que eu nunca mais vou esquecer, no final a gente acaba mesmo numa esquina qualquer, lembrando de alguém que um dia chegou e depois foi embora, perplexo.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Enfim, nós. E a 'Claudinha'

Foram quatro horas e cinqüenta minutos ao meu lado. E ele vai embora feliz da vida achando que conheceu alguém legal. Foram menos de cinco horas e me dá certa pena pensar nos próximos dias, meses. Talvez anos, se ele for algum tipo de corajoso, algum tipo de masoquista.
Eu consegui, por hoje deu tudo certo. Fui inteligente e carinhosa. Depois fui engraçada e um pouco mais carinhosa. Mas tenho certa pena do dia de hoje, tenho certa pena de como esse dia corretinho, linear e brilhante pode ser corroído pelas chuvas, calores e sujeiras. E acabar como algo disforme, fosco e fraco.
Eu queria que você soubesse, meu amor, que sou dessas loucas. Dessas loucas que vai te chamar de meu amor, mesmo você estando na minha vida há apenas uma semana. Dessas loucas que vai querer te matar só de pensar que, talvez, daqui cinco anos, você me troque pela 'Claudinha', uma menina mais nova e sem as minhas manias insuportáveis que você ainda não conhece.
E aí, mesmo eu te conhecendo há apenas uma semana, vou te odiar pelo que vou sofrer daqui a cinco anos. E vou te odiar, sobretudo, porque daqui uma semana, quando você se apaixonar pelas minhas manias insuportáveis, eu vou acreditar que você nunca vai enjoar delas.
Eu sou dessas malas sem alça que vai ter ciúme dos seus amigos, dessas pessoas maravilhosas que te conhecem há muito mais tempo que eu. Essas pessoas maravilhosas que serão as primeiras a saber, daqui cinco anos, que você está comendo a vaca da 'Claudinha'.
Aliás, eles que vão te apresentar a vaca da 'Claudinha'. Só de pensar nessa puta da 'Claudinha', sabe o que eu fiz assim que você saiu da minha casa ontem? Eu liguei para o Pedro. Depois para o Ricardo. Depois para o Fábio. E deixei todos de sobreaviso: ando super carinhosa, gatos.
No fundo, no fundo, não tenho a menor vontade de ser carinhosa com nenhum deles. Mas sou dessas idiotas covardes que quando percebem que estão gostando de alguém, resolvem gostar de vários. Só para banalizar o sentimento. Só para descentralizar a renda. Olha eu, fazendo piadinha meio de esquerda... olha eu, escrevendo meio parecido com você e dando nomes para personagens. Eu sei que gosto de alguém quando esqueço de não gostar tanto de mim. E eu gosto de você, mesmo sabendo que você gosta de mim por pouco tempo.
Ai amor, amorzinho, amoreco, moreco. Eu odeio esses carinhos, odeio. Mas falo todos eles baixinho antes de dormir, para o espaço ao lado da cama que ninguém ocupa. E eu sou um pouco mais estranha do que ser estranha permite. Sou estranha além do charme de ser estranha. Eu sou daquele tipo bizarro, que eu nem sei direito se existe, que vai te acordar, daqui a algumas semanas, chorando como se tivesse te perdido para sempre.
Eu sou sempre cinco anos na frente, eu já começo sofrendo com o fim. Eu vivo o luto de tudo, antes mesmo de comprar uma roupa colorida pra curtir que você foi embora ontem, lá de casa, querendo voltar. Eu sei que você quer voltar. E eu sei que serei muito feliz por cinco anos, até a puta da 'Claudinha' aparecer. Aquela vaca.
Pensa bem, meu amor, pensa bem. Eu sou daquele tipinho baixo de mulher. Daquele tipinho que rouba o seu celular enquanto você faz seu xixi feliz da vida, achando que conheceu alguém legal. Eu sou daquele tipinho raso, que vai xeretar seu orkut, tentando descobrir o que sua ex tinha que te fez demorar tanto para aparecer na minha vida. E vou odiar toda a sua história, e vou odiar que seus amigos sejam amigos da sua ex, e vou odiar que seus amigos vão adorar contar suas histórias do passado. E vou ficar quietinha, perdida, no canto da mesa. Querendo ligar pro Ricardo, pro Fábio e pro Pedro.
Não que eles sejam melhores do que você, porque não são. Mas eu preciso fugir de você ser tão legal. Porque você é definitivamente muito legal, tão legal que não vai agüentar e me largar daqui cinco anos. Inebriado pela mente menos complexa, pelo peito menos angustiado e pela bunda mais dura. Da 'Claudinha', claro. Sempre ela.
Ainda dá tempo. Ainda dá tempo de se libertar da minha neura de contar as coisas e de não encontrar razão para haver um pão na fruteira. Agora tem graça, mas imagina essa mesma conta que soma o mundo sem nunca subtrair nenhuma tristeza daqui cinco anos? Cai fora, irmão. Cai fora.
Não demora muito para eu começar a competir com você. E querer ser melhor que você. E querer isso justamente para que você nunca deixe de me admirar. Mas eu, mais uma vez, sem ter medida de nada, vou te sufocar com meu saquinho furado. Meu saquinho onde todo e qualquer amor ainda é pouco. Porque meu vazio é imenso.
Já imaginou só? Já imaginou quando algum amigo seu apontar e falar: quem é aquela louca ali, berrando no meio da festa e pegando um táxi? E você vai ter de voltar sem graça, e explicar: ela se irritou porque eu peguei a última água com gás sem perguntar se ela queria.
É isso o que você quer para a sua vida? É isso? Uma mulher que tem mais medo de vomitar do que de paraglider? Uma namoradinha meiga que a qualquer momento pode soltar 345 palavrões no seu ouvido só porque você tem mais coisa pra fazer da vida do que me idolatrar?
Combinado, então? Você vai ler agora esse texto, ficar meio tristinho, afinal de contas não é todo dia que se perde uma mulher como eu, mas vai ser forte e terminar tudo. Terminar tudo e ir logo de uma vez conhecer a puta da 'Claudinha'. Essa vaca.
E aí, daqui uns cinco anos, quando você descobrir que mulher é tudo a mesma coisa, quando você estiver enjoado das manias insuportáveis da 'Claudinha', quem sabe algum amigo seu não me apresente a você. E quem sabe a gente não é feliz pra sempre?

quarta-feira, 19 de março de 2008

By Tati Bernardi

João e (a vellha) Maria



Duas vezes eu quase morri de saudades de você. Uma quando eu vi Closer e lembrei que o amor, como deveria, não existe. E outra quando escutei sem esperar “Quem te viu, quem te vê” e lembrei que você era um pedaço charmoso de tudo o que o mundo e a vida têm de mais charmoso. Doeu lembrar ou aceitar que esse pedaço não existe mais nem no predinho azul e nem no sofá azul. Neste dia você finalmente morreu, e eu chorei de luto sem teatro, de luto não atual, de resto de luto. De um luto morto.
Você namora, casou, sei lá, com a menina de bolsas e saias bonitas que não tem cara de louca. E essa é a minha vingança, porque eu sei que você é mais feliz sem loucura, mas a felicidade e a normalidade não existem. Eu ainda acho que a gente tinha alguma verdade que faz você, nem que seja a cada 100 anos, arranhar um Chico Buarque em meu luto. Um luto cheio de vida.
Vez ou outra chegam aqueles seus emails que você responde por educação e são cheios de frases quase íntimas envoltas pela maior frieza do mundo. É como se a cada letra você reafirmasse que somos amigos cheios daquela inteligência de camaradas descolados e bem resolvidos que, como tudo na vida que ainda respira e tem cor, seguiram em frente.
Sim, somos isso mesmo, claro. Mas eu caguei para tudo isso e fico com o seu abraço naquele fim de festa estranho em que você foi o dj e, para a minha surpresa, me fez matar a saudade do meu mundo.
Eu fico com as danças que sem nenhum medo das críticas eu improvisei para o nosso espaço no universo. Dancei como uma bailarina que volta a funcionar milagrosamente, e pela última vez, numa caixinha de música quebrada.
Eu fico para sempre com o que você plantou em mim, essa erva do mal. Você sabia que me tornei uma mal-humorada-pseudo- intelectual totalmente insuportável e crítica? Você ao menos era culto de verdade.
Você está bem onde está, eu estou bem onde estou. Mas, como aconteceu naquele dia na praia, em que eu passei indo com meu novo amor e cruzei você vindo com seu novo amor, não tem como a gente não olhar para trás.

terça-feira, 18 de março de 2008

O que as mulheres fazem quando vão ao banheiros. Dos seus namorados.

Ter camisinha na gaveta é normal, afinal, ele tinha uma vida antes de me conhecer. São oito camisinhas ao todo, se até a próxima sexta continuarem sendo oito, é porque ele não usou nenhuma com outra mulher. Comigo não precisa porque fizemos os exames e eu estou tomando pilula. Pelo no barbeador é normal, anormal seria um barbeador limpo, porque quem limpa gilete é mulher, depois de emprestar sem o namorado saber para deixar o desenho da piriquita bonitinho antes de ir para o quarto. Bom, se a gilete está suja, nenhuma piriquita designer passou por aqui.
Na portinha do espelho não tem espaço para outra escova de dente, o que significa que há muito tempo ele não divide tamanha intimidade com alguém, ou não sabe dividir espaço. Isso é bom ou ruim? Bom, de qualquer forma, eu estou aqui para mudá-lo. E vou comprar um porta-escovas que caibam duas escovas. Aliás, vou comprar uma escova nova para ele, essa aqui tá muito velha. Quantas vezes será que ele já escovou os dentes neste escova depois de transar com outra mulher? Eu odeio essa escova.
Clarice sente a primeira pontada no intestino: o melhor laxante do mundo era vasculhar o banheiro do namorado. O misto de medo de ser descoberta com medo de descobrir alguma coisa lhe dava cólicas horríveis, o que não era um grande problema já que ela estava no lugar certo para isso. Enquanto senta no vaso, Clarice aproveita para levantar a tampinha da lixeira, espiar embaixo do carpete e olhar calmamente para os cremes de cabelo no chão do box do chuveiro.
Cremes para cabelo? Mas o seu namorado da semana era quase careca, para que aqueles cremes?
Ué, ela pensa lendo o rótulo do creme e disposta a atirá-lo na parede em poucos minutos: o que o danado faz com creme para amançar os cachos se ele não tem o equivalente na cabeça nem para uma franja?
Clarice parte diretamante para o ralo, este velho amigo das mulheres. Se o ralo tiver um cabelo que precise ser amansado, é ela que vai precisar de remédio para se amansar.
Não, sem chances. De quatro espiando aquele ralo era muita humilhação. Clarice respira fundo, fecha os olhos, conta até três e busca o telefone.
Fernanda atende do outro lado e depois de chamar a amiga de louca, neurótica e mandá-la "sair desta vida", confessa que já fuçou no cesto de roupas sujas de um ex namorado, e para a sua surpresa: achou uma calcinha.
Silêncio no telefone.
Clarice, com o coração e um princípio de vômito na boca, só consegue gemer e desejar desligar o telefone o mais rápido possível, para poder voltar à busca.
-Aonde será que fica o cesto de roupas sujas deste sem vergonha?
-Espera, deixa eu concluir a história. Sabe de quem era a calcinha?
-Da empregada, da secretária, da estagiária, da Gisele, dele mesmo?
-Da mãe dele. A mãe dele era coroa cocota filha, usava umas calcinhas mais sexys do que a minha!
-E você não ficou com ciumes?
-Da mãe dele. Ok, desligue este telefone agora e procure ajuda psiquiátrica.
E foi exatamente o que ela fez. Desligou o telefone e ligou para sua amiga Ane, que sempre filosofava tanto em cima de suas psicoses que fazia Clarice se sentir importante por ser maluca.
-Sim, claro que é normal você estar neste exato momento vomitando o café da manhã, com piriri e dor de cabeça porque ele tem um creme para cabelos cacheados no boxe do banheiro. Anormal é você ter se esquecido que ele mora com a filha, que tem longos cabelos cacheados, não?

terça-feira, 4 de março de 2008

Frejat





[...] Afinei os meus ouvidos

pra escutar suas chamadas
Sinais do corpo eu sei ler

nas nossas conversas demoradas
Mas há dias em que nada faz sentido
E o sinais que me ligam

ao mundo se desligam [...]

Frejat

Carta Pra Ninguém


Escrevo esta carta pra ninguém,
porque talvez tu jamais a leias.
Já me senti vazia algumas vezes,
mas antes eu acreditava que tudo
seria resolvido com o passar do tempo.

Meu olhar era mais claro
e eu poderia ficar noites acordada,
levantando cedo pra trabalhar,
que nada tiraria a viscosidade
de minha pele.

Hoje, durmo cedo e acordo cansada
de tanto barulho que a tua falta me faz.

Como pode uma promessa de vida,
apenas falada,
esvaziar tanto uma pessoa madura
e tirar-lhe os sonhos,
como se tivesse convivido anos e anos,
partilhando o mesmo espaço,
dividindo momentos bons e ruins.

Como pode os dias todos,
terem se transformado nesse imenso vazio.

Já digitei o número do teu telefone,
umas mil vezes e sem coragem de te ouvir,
desliguei antes de completar a ligação.

Acho que já passou muito tempo,
esgotou o prazo de te buscar.

Me acovardei no silêncio
e ainda não me recuperei.

Estou me sentindo assim,
vazia como um pote quebrado
e nenhuma tentativa,
me faz sentir bem.

Saiba que tu és tudo
o que
sempre quis em minha vida
e que porventura, nem chegou a ser...
tua cabeça no meu colo,
minhas mãos no teu cabelo...
nunca mais será e na verdade,
nunca foram...

Meu amado, meu amigo...
por onde andares e se me leres,
saibas que me deste o melhor dos sonhos
e em contrapartida,
tua lembrança transformou meus dias,
em um eterno pesadelo.


Angela Lara


[...]


Passei uma eternidade à tua espera
E esperei…
Subi ao céu e rodopiei
Dei a volta e reentrei
Toma este mar…
Que os nossos dias são curtos…
E foram tão longos os tempos sem ti
Tão sofridos por não te ter
Confesso que não vivi!



(Rogério Martins Simões)

Raiva ou Rima...


Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa
matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou
em rima.


Paulo Leminski

Namorados

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
- Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma
lagarta listada?
A moça se lembrava:
- A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
- Antônia, você parece uma lagarta listada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
- Antônia, você é engraçada, você parece louca.

Manuel Bandeira

Quero saber


Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com uma condição: não nos compreender

Pablo Neruda

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Mais ou Menos

Afinidade acontece. Um mesmo signo, um mesmo par de
sapatos caramelo, um mesmo livro de cabeceira.
Afinidade acontece entre seres humanos. A mesma frase
dita ao mesmo tempo, o diálogo mudo dos olhares e a
certeza das semelhanças entre o que se canta e o que
se escreve. Afinação acontece. Um mesmo acorde, um
mesmo som, uma mesma harmonia. Afinação acontece entre
instrumentos musicais. A mesma nota repetidas vezes, a
busca pela perfeição sonora e a certeza das
similaridades entre um tom acima e um tom abaixo. A
incrível mágica acontece quando os instrumentos
musicais descobrem afinidades humanas entre si no
mesmo instante em que os seres humanos descobrem
afinações musicais dentro deles mesmos.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Ecoando Notas

O moço toca flauta enquanto ela lembra das virtudes
esquecidas nas cavernas de seu coração. A melodia vai
ecoando por toda parte, desde os ouvidos até o pulmão.
Ela tropeça nela mesma enquanto se enternece com o som
raro daquela flauta. E a tristeza transversal que até
então lhe preenchia dá lugar a uma euforia luminosa,
assim sem razão de ser, mas já sendo.